Hoje acordei antes das seis e coloquei minhas plantinhas pra tomar banho de chuva na varanda.
Fiz meu café da manhã com calma, e agora escrevo a primeira cartinha nesse momento tão bonito, que é quando o sol vai abrindo caminhos por entre as nuvens de chuva. Um momento simbólico, eu diria, em que a vista acostumada com o escurinho reclama da chegada da luz.
Mas você sabe: é justamente essa luz que faz a gente enxergar melhor.
Foi mais ou menos nessa época, no ano passado, que eu iniciava o meu tratamento para síndrome do pânico. Apesar dos pesares, é bom olhar pra trás e constatar que tive recursos para interromper esse ciclo invisível e cruel de pelo menos vinte anos dos meus trinta e um.
E não só esse.
Em dezembro, rompi um relacionamento de quatro anos. Coloquei de lado o sonho antigo de dividir uma vida com alguém e voltei a morar sozinha. Pro meu desespero ou pro meu alívio (ainda estou descobrindo), depois de alguns meses, percebi que nunca havia vivido de fato esse sonho. Dividir é via de mão dupla, e tudo o que eu estava recebendo era uma sobrecarga mental tão grande, tão profunda, que ainda hoje - quase um ano depois - encontra meios de me machucar.
No meio desse turbilhão, veio também o burnout. E o burnout incendiou completamente o único caminho que eu sabia de cor para me resgatar desses momentos em que eu me perdia de mim mesma: desenhar.
Foi aqui que eu senti, pela primeira vez na vida, que tinha perdido tudo o que eu tinha.
Essa sequência de rupturas me faz lembrar de uma plantinha que se quebrou em uma das mil mudanças de casa que fiz nos últimos 3 anos - a história é simples e me trouxe um aprendizado singelo:
There is a crack in everything. That's how the light gets in. - Leonard Cohen
Sinto que eu perdi muito de mim com essas mudanças todas, e sinto que ainda estou descobrindo qual o melhor substrato, o melhor vaso, o melhor lugarzinho da casa para acolher cada pequeno pedacinho que se quebrou. Quais partes de mim ainda precisam ficar na sombra, quais precisam da luz do sol, e quais já estão prontas para enraizar na terra. Quais ainda têm chance de renascer, e quais vou precisar aprender a viver sem.
E se existe algo de valioso no meio de tanta ruptura, talvez seja a oportunidade de acompanhar o nascimento de algo novo, que nasce pequeno, sem muita pretensão, e cresce no seu tempo, sem pressa.
Os meus desejos para mim mesma são os que transmito também para você que me lê hoje: que a gente nunca perca a coragem de deixar para trás o que nos adoece, e que a gente nunca esqueça que se perder também é caminhar.
Com amor,
Nossa… que texto inspirador ❤️
Que vc possa ser recomeçar quantas vezes precisar, que vc se reinvente de todas as maneiras possíveis!!!
Eu sei que não é fácil, mas a cada passo uma conquista e um aprendizado. Desejo muito que vc seja a sua maior fã!! Que vc celebre cada movimento próprio como muita alegria!!!